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Aprendiz de Teologia e Filosofia

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A LEITURA

“Sem a leitura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma Selva."                                                                                                             Albert Camus

Ler é descobrir, ampliar horizontes, expressar o universo individual em interação com os outros, é prática, fundamento da existência, vivenciar outras ciências, dissipar as sombras da mente, transmitir paixão através de novas perspectivas, receber mensagens através da musica, de símbolos e de signos. O que configura a humanidade é o fato de sermos homo-sociais, cidadãos da história, mergulhado de valores, de desejos, de sonhos, possuidores e produtores de linguagem. Construtor coletivo que produz a história como sujeito social da linguagem. O mundo em que vivemos é o mundo das leituras, das palavras, do texto e do contexto, que aumentam a capacidade de percepção, compreensão e aprendizagem. A leitura do mundo é fundamental na rica experiência de compreensão do mundo imediato. “Ao ser introduzido na leitura da palavra, à decifração da mesma fluía naturalmente da leitura do meu mundo particular”. (FREIRE, 1982, p. 11).

A compreensão crítica da importância do ato de ler, através da prática revela uma visão da palavra cuja visão precisa ser superada com urgência. Paulo Freire considera que a leitura do mundo em particular é absolutamente significativa, porque é recriar e reviver uma experiência vivida no momento em que a pessoa ainda não podia ler a palavra. “É preciso ler o mundo para ler a palavra.” (FREIRE, 1982, p. 23).


Ao realizarmos a leitura do mundo adquirimos subsídios para a leitura da palavra. Paulo Freire considera imprescindível que o mundo seja lido para que se possa fazer a leitura da palavra. “A leitura do mundo me foi sempre fundamental à importância ao ato de ler”. (FREIRE, 1982, p. 28). A leitura é decorrente do conjunto de conhecimentos e informações a qual constitui uma determinada forma de ver o mundo. Existem muitas concepções de leitura cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais e racionais: A leitura sensorial: é uma leitura inicial, quando o leitor despertará com letras, cores, ilustrações, quando a história é contada desperta a imaginação e o lúdico do leitor, onde este cria suas fantasias.


O gosto de ouvir Caetano Veloso revela nele e neste gosto a peculiaridade de ler o que está além da leitura. O sentimento, a ortodoxia tropical, a leitura emocional que quando faz contato do leitor desse nível em contato com a leitura é dominado por seus sentimentos. A emoção ressalta a necessidade do ser humano de fugir da realidade em que vive nesse nível a emoção é mais forte que a razão.


A leitura não pode ser confundida com a reprodução de informações, ao ato de ler devem ser atribuídos significados e, nesse sentido em contato com o texto o leitor deixa aflorar seu conhecimento de mundo, interesses e opiniões. Ler é uma experiência individual, interpessoal e dialógica, individual porque significa um processo particular de processamento de informações de um texto. Mas os sentidos não se encontram no texto ou no leitor, exclusivamente, mas sim, entre ambos, tornando assim a leitura dialógica. Se pode-se ler, pode-se tudo. Cada leitor aciona seu universo de conhecimentos no ato da leitura, o que possibilita uma análise mais profunda dentro desse processo. No conhecimento o maior será o que mais lê. E somente enquanto issso: quando lê. Quando se fala em leitura, o que vem à mente em primeiro lugar é a decodificação da linguagem escrita, porém o conceito vai muito além dessa visão.
O ato de ler traduz-se em interagir, interpretar, compreender. A leitura dá condições de optar e decidir sobre o universo que nos rodeia. Ler é dar contexto a todos os textos. Quem lê pensa, adquire forma própria de pensar e não aceita a interpretação oficial de tudo. Quem lê desestrutura universos dos padrões convencionais e reorganiza o mundo através da palavra. A leitura é para a vida uma maneira de se encontrar e ampliar perspectivas, principalmente para aqueles que moram longe do conhecimento.

A leitura não resolve os problemas sociais, mas transforma-se em conhecimento: quem está informado faz melhor escolha. Leitura é fruição, trabalho, método, pesquisa, busca de informações: aprendizado. A leitura viaja sem desprender-se da raiz. O ato de ler acaba provocando a memória do leitor e nela seus sonhos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Quem lê tende a se expressar cada vez melhor e com mais identidade. Isso sem contar o papel emancipador da leitura, principalmente, para camadas sociais historicamente privadas ou com poucas possibilidades de leitura. A leitura é uma experiência de sentidos e significados: um jogo entre o leitor e o texto.
O leitor necessita de desafios, deve ler novidades e gêneros textuais diversos; os livros devem ser inseridos conforme a progressão do seu contexto de leitura. A paixão pelos livros transforma as palavras, tornando-as cheias de significados.

Como disse o italiano Umberto, a  redescoberta da paixão pela leitura traz o entendimento de que a vida precisa ser lida como um livro que se abre nos vários sentidos de suas páginas e que as obras literárias convidam à liberdade de interpretação porque propõe um discurso com muitos planos de leitura, defrontando-nos com a ambigüidade da linguagem. (ECO, 2001, p. 29).

Parafraseando Paulo Freire a leitura da palavra é precedida pela leitura do mundo. Através da leitura do mundo é possível ter palavras para reescrevê-lo e transformá-lo.
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Fontes
ECO, Umberto. Sobre a literatura. Trad. Alberto Gumus. São Paulo: Record, 2001
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler . São Paulo: Cortez. 26. ed., 1982

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Batismo com Espírito Santo como uma benção de segunda categoria

Esse é um desaforo teológico. Um exagero de Atos 2. Afirmar que o batismo com o Espírito Santo é adquido após a conversão é baixar o Espírito ao nível da falibilidade. O problema é que a experiência, tem formatado a forma de se compreender essa doutrina tão importante.

Ao lermos a primeira carta aos coríntios, não precisamos nem de um diploma de hermeneuta para entender o contexto. A igreja estava com dificuldade teológica e moral. Paulo clama em bom som:
"Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito." Isto é mais do que esclarecedor. Pode então algum estudioso questionar: o que fazer com o texto de Atos 8, Filipe pregou, Simão creu e depois foi batizado. Ora depois de um tempo, Pedro e João foram para aquele local e oraram para que recebessem o Espírito Santo. Pense comigo: Isso provaria a doutrina da segunda bênção se não houvesse um problema de interpretação.

O problema:
Esse texto não é doutrinário. mas uma narrativa de fatos. Isto é observado em Atos 8:12, versículo chave para entender todo o texto. Para alguns comentaristas do novo testamento, entre eles, I. Howard Marshall, Pedro e João são enviados para aferir o trabalho de Filipe (que estava sendo de maneira equivocada). O texto apresenta Simão como um indivíduo que não creu em Jesus Cristo. Sua fé estava firmada em seu líder Filipe. A versão Almeida Corrigida Fiel mostra este homem com alguém que fica atônito com o homem Filipe, se lermos o texto na bíblia NVI, conseguimos equalizar a emoção do rapaz ele ficou "maravilhado".

O texto de Atos 2:38 traz uma linda mensagem: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo". Mas se ao ser batuzado em nome de Jesus, o pecador não se submeter ao Senhorio de Cristo, estará somente tomando um banho.

Além disso, João 14 fala que estaríamos sendo usados pelo Espírito de Deus sempre: "estará sempre conosco e em nós", mas se vivermos como nos tempos da lei, em que o Espírito entrava e saia dos crentes, todo o novo testamento é mentira. O que não é. Digo isso pela fé.

Esse mesmo problema vai ocorrer com o texto de Atos 19, onde o ver´siculo dois apresenta-se também como chave para entendermos o texto. Não foram estas pessoas batizadas duas vezes com o Espírito Santo. Mas, eram pessoas que estavam convencidas. Tanto em Atos 8 como em Atos 19, oas indivíduos estavam crendo em histórias. Logo, concluimos que, para ser batizado no Espirito Santo faz-se necessário ser crente em Jesus, e um indivíduo só pode crer em Jesus se conhecer realmente em Jesus. Não precisamos de curso de exegese para entender claramente o texto. Está na nossa cara!!


Nós crentes, temos que buscar, não o batismo com o Espírito Santo, mas o fruto do Espírito.
Sermos cheios do poder de Deus comendo e arrotando o sabor do fruto do Seu Espírito.

E qual é a conseqüência disso? Vou gritar? Cair no chão? Falar línguas que ninguém entende?

Não, certamente que não.

Ser cheio do Espírito Santo é ter uma vida de santidade, uma vida de devoção total a Deus. Não há consenso em dizer que somo cheios do Espirito Santo, sem sermos batizados por Ele. Batismo é selo. Qualquer aluno de EBD sabe isso. Os milagres e as maravilhas acontecerão de acordo com a bondade soberana de Deus, não por causa de homens que possuem poder e que decretam o que Deus deve fazer. O poder pertence única e exclusivamente a Deus diz o salmo 62.


Algumas evidências do Batismo no Espírito Santo:
1) O Batismo no Espírito Santo nos leva a glorificar a Deus.
1 João 16.13-15 - " O Espírito Santo nos guiará a toda a verdade, glorificará a Jesus e anunciará as obras de Jesus e do Pai".

2) O Batismo no Espírito Santo nos traz convicção de filhos de Deus.
João 14. 16-23 - "estará sempre conosco e em nós"

3) O Batismo no Espírito Santo nos direciona a ter amor pelas Escrituras.
João 16.13 - "Ele vos guiará a toda verdade".

4) O Batismo no Espírito Santo efetivará o nosso amor por outras pessoas.
Atos 2. 44-46 - "Estavam unidos e tinham tudo em comum"

5) Os Batizados no Espírito Santo tem marcada pela santidade.
Atos 2.38-40 - "Arrependei-vos..."

6) O Batismo no Espírito Santo nos leva a ter repúdio pelo pecado.
Romanos 12.9-11 - "Detestai o mal, apegai-vos ao bem e as virtudes da vida cristã"

7) O Batismo no Espírito Santo forjará um imenso desejo de testemunhar.
Atos 2.18 e 40 - "Falaremos com ousadia a respeito da salvação"

Se alguém conhece uma pessoa crente, mas que não é batizada com o Espírito Santo, deve-se entender que esta pessoa nunca foi um crente genuíno, pois todos os que crêem são ou foram batizados com o Espírito Santo.Como diz o texto bíblico em Atos 2:38: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo".

Dizer que não recebeu a promessa derramada por Jesus, o batismo com o Espírito Santo, será o mesmo que dizer que tal pessoa não se arrependeu dos seus pecados.


Sugestão de leituras:
Batismo e plenitude do Espirito Santo - John Stott
El Espírtu de pentecostés - F. Van Deursen
A obra do Espirito Santo - Isaltino Gomes C.Filho
Esboço de teologia sistemática - D. Bancroft

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

HÁ TEMPOS: A VONTADE HUMANA COMO IDEAL

Não é a canção de Renato Russo. Se bem que a mesma caberia no texto, devido seu importante teor ecatológico. Mas não é isso que quero falar. Há tempos, os jovens buscavam uma liberdade ideológica. Afinal, livres de quê? Queremos ser livres da pornografia, carregando-a no pensamento. como ser livre de alguma coisa que tenho prazer de pensar. Devo ser livre de meus pensamentos, dizia Agostinho. É assim que nós vivemos. Há tempos, sonhamos com uma sociedade livre do sexo. Uma cidadela de santos. Exigimos dos jovens o afastamento do sexo, e corremos para nosso leito a fim ter as melhores carícias de nossos amantes. Em Brasília, tem gente amando demais. Se estamos satisfeitos com a política, nada deve mudar. Se não estamos, há tempos pedimos uma revolução.



Há tempos, a ligação entre a politica e a chícara de café não andam mais juntas. União essa, que leva o homem a pensar, sem ser manipulado. leitor absoluto de sua ideia pré-fabricada. Desculpe-me o senhor novo acordo ortográfico. É que desde a leitura de Cem anos de Solidão, não sou mais o mesmo. ando com medo de ler as notícias, que conforme diz meu amigo comunista, anda atrelada ao poder do dinheiro político. Em quem posso confiar? Se o o jornal da manhã foi comprado por magnata do palácio, tenho que fazer a leitura crítica de mim mesmo: Será que no decorrer de minhas andaças eu tenha financiado o silencio da verdade? Porque antes, colocávamos no poder aqueles que calariam a nossa voz. Hoje não mudou nada. É por isso que há tempos que as crianças brincam no quintal, dissimulado tudo que é sério, sem levar em conta aquilo é inocência. Temos a tendencia de ser criança. Faz parte do currículo de cada um: não sou responsável por que faço, se deixaram um copo de vidro na minha mão, alguém será penalizado, mas um objeto deste não pode ficar nas mãos de um inocente. Culpado é o outro.



Há tempos a escolha tem procurado seus responsáveis. Os materialistas dizem que a culpa é do universo. Ele está em desordem. O responsável é a desordem, da mesma forma que os brinquedos estão espalhados na varanda. Os agostinianos já encontraram uma explicação divina para a responsabilidade, ora, se temos brinquedos e que brinca, temos também aquele que comprou-os, utopia ou não, brinquedos são fabricados, o restante inverteu a brincadeira: o brinquedo é que produziu a fábrica. Idiotice! É como disse o cronista do jornal matutino: era assim nos tempos em que a filosofia clássica pedia discussão a respeito dos mesmos sujeitos, a igreja comprou a retórica de que sempre foi assim. A moda é discutir. Vamos comer pão e nos divertir no circo, sinonimo de idéias novas. Um rapaz chamado Tiago, disse que a discussão em torno daquilo que se tem vontade; se não houver intecionalidade seguida de ação, será inútil (Tg 2:17).



Gosto de muito das idías pós-modernas. Pena que são apenas idéias. alguém arriscaria tirá-las do projeto? Ou seria mais um discurso. Em "A cidade ideal", Chico Buarque, que deveria ser ouvido pelo clero protestante, empresta-nos uma idéia daquilo que representa nossos discursos políticos: queremos uma cidade ideal, um bairro ideal, um país idealizado e não o construímos. Porque? fica na utopia, porque nossos ideais são individualizados. Há tempos, como naquela canção para um cachorro, a cidade ideal dum cachorro deveria ter um poste por metro quadrado, mas isso atrapalharia a cidade das galinhas, pois o poste ocuparia o local ideal para ser ter um punhado de minhocas. Cada um quer ter a cidade do seu ideal, na discussão atual, não é como antes, o que tem prevalecido é o meu ideal, por isso não posso concordar com as galinhas, só porque não como minhocas. ainda bem que tanto ,como a tempos atras, o nenhum ideal de fato prevaleceu a longo prazo, e quando isso ocorre ou é por que as crianças estão ocupadas com os brinquedos. Percebi que cai, na armadilha do discurso. Estou apenas divagando, ou tentando convecer a não fazer o que mais precioso que temos em mãos: pensar escrevendo, mas é esse é só mais um discurso.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Vontade humana III

Por uma desumanidade de Deus ou a nova catastrofe intectual

Para o melhor entendimento clique aqui:
François Varillon - O poder de Deus e o poder do amor (R.Gondim)



Realmente também acho infantil esse subtítulo. Ele surge após a leitura de um texto mais infantil ainda. É uma criatura. surge da essencia de mais uma irracionalidade de um senhor. Ao falar do poder de Deus e suas atitudes faz-se necessário estar atento sobre que deus estamos falando. A minha pergunta inicial é existe mais de um deus no cristianismo. A impressão que nasce agora é que tenos no borjo da protestantismo dois deuses. E por isso o protestante pode por um momento achar-se orgulhoso for apelidado de "fundamentalista". Seja um. Mas não caia no erro de pregar um outro deus, como faz o "senhor liberal" em seu texto. Humanizar a Deus é despi-lo de suas roupas divinas. É fazer de Deus um homem. É inverter a ordem dizendo: façamos a Deus conforme a nossa imagem e semelhança. O desejo, alavanca da vontade é evidentemente dar espaço para que tenho como sonho concreto e recusar o que entre o desejo e a inteligência se interponha a vontade é assumir que não sou livre. A vontade torna-se responsável pela ação e essa ação voluntária governa os afetos. Logo, colocar o amor do Senhor em igual nível ao fraco sentimento humano é forçar não só o paragrafo, mas aludir que o divino agora também pode ser achado fazendo compras no mercado mais próximo. Isso é liberalismo disfaçado de nada. Antes o lideralismo tinha força de expressão. Confundia as pessoas, agora seus seguidores ostentam-se em bajular o ateísmo científico, tornando-se não só despresível, mas engraçado. Ele não sabe "como ser livre e controlado ao mesmo tempo", deduzimos que nunca leu a bíblia então, e que por esse motivo não enende que a revelação de Deus é continuo ato de homens tomando decisões e um Deus corrigindo "a merda" por eles feita. Simplismo meu. Como posso exigir que o "senhor liberal" acredite na bíblia. Ora, essa correção de Deus é um atrelar da vontade do individuo. A paixão como lugar de recepção de uma ação, seu terminus ad quem; a ação como lugar de onde parte uma operação, seu terminus a quo, é como um gatilho, ele não mata sozinho, de sorte que uma paixão será ação e uma ação, paixão. Ação precisa de acionamento. Não é próprio do indivíduo ser bom, e por isso existe o cristianismo. Sem cruz não haveria revelação, sem revelação não haveria vontade de Deus. Se Deus tem uma vontade para o indivíduo, há uma anulação da outra vontade, a do homem. Lembrando que, aprender que é necessário fazer a vontade de Deus é estar conciente de que a liberadade humana anula a capacidade de Deus. Estar livre é estar fora de Deus, é negar os atos dele, é viver de forma que me agrada. Por isso pregam o niilismo, por isso acham melhor ser ateus do que "fundamentalistas". Gostam de estar desnudos de regras, mesmo que a regra seja Deus. O padre François Varillon é um equivoco e seus seguidores erram juntos por acharem que a vontade soberana de Deus é uma ameaça a liberdade humana. O que é isso? O poder de Deus não não está a serviço da minha liberdade. Isso é uma confusão dos liberais, a minha liberdade é o resultado do poder de Deus. Por isso somos chamados livres. Nossos apelidos dizem tudo, as vezes somos chamados servos por que somos escravos de um Senhor, outras de filhos. Ao mesmo tempo o indivíduo é filho do Rei. É o paradoxo do cristianismo. Proponho a desumanização de Deus, porque ele não precisa agir de forma que o ser humano entenda. O conhecimento humano não pode exigir explicações de Deus. Ele é que governa. ou não? Não tem o Eterno a chaves da mais importantes cidades do mundo espiritual? Sim, a não ser que não creia no texo revelado a João: “Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do inferno”(Ap 1.18). Não estar preso nas garras do bem é veradeiramente um suicídio, e nisto concordo com o "senhor liberal", que não terá escolha: morrerá livre como acha que é, presumindo que a extensão do corpo é alma! Pensar que o homem é contituido de três partes é abrir mão da liberdade. Pois até o suicida não pode escolher dar cabo a própria vida, por que esta não acaba aqui.

Para estudo sobre o tema, sugiro:

LIBANIO, João Batista. Deus e os homens: os seus caminhos. Petropolis: Vozes, 1990.

HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2007.

CHAUI, M. Ser parte e ter parte: servidão e liberdade na Ética. Discurso, no 22, 1993, p. 63-122 (publ. do Depto. de Filosofia, FFLCH-USP).

LALENDE, André. Vocabulário Tecnico e Crítico da Filosofia. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.


sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Vontade humana (parte 2)


 Vendedores da Verdade ou Quanto vale um quilo do Cristo?

A história nos ensina que de oportunistas estamos mais do que (desa)costumados. Por querer saber o homem atropela o limite  do diálogo. por. Ensimesmando por sua aparente verdade, o ser humano faz atrocidades piores no campo da comunicação do que está acostumado. Fazer miatismoem nome de uma aparente razão, não preocupa. Os resultados numerosos mas, sistematicamente desorganizados, deixam claro que o que é comunicado interessa mas depois frustra. Isso resume o homem. A observação de Kant está em ordem correta.  

                         "O campo do conhecimento antropológico pode ser delimitado nas seguintes questões:
                          Primeiro, no que eu posso saber? Segundo, o que eu devo fazer? Terceiro, o que posso
                          esperar? E quarto, o que é o homem?1

Bom, a identidade entre o necessário e o livre é inseparável dessa subversão conceitual, que permite ao filósofo demonstrar que, sendo a mente idéia do corpo, aquele que tem um corpo apto à pluralidade de afecções simultâneas tem uma mente apta à pluralidade de idéias simultâneas, de maneira que a liberdade humana é potência para o múltiplo simultâneo quando este se explica apenas pelas leis necessárias de nossa natureza, deixando de identificar-se com o exercício do livre arbítrio como escolha voluntária entre possíveis. Logo, perguntamos: que livre arbítrio tem o indivíduo para per si, comunicar o incomunicável e ser detentor de retórica tal que arrasta multidões?2

Li recentemente um texto de PINK onde ele antcipa a maior feira religiosa, que colocaria os erros da igreja católica em segundo plano para os reformadores, frente a tão urgente correção do mais infame e farisaico equivoco da história do cristianismo:

"Os apóstolos de Satanás não são donos de bares e negociantes de escravos brancos; em sua maioria, eles são ministros do evangelho ordenados por igrejas.
Milhares dos que ocupam os púlpitos das igrejas modernas não estão mais arrojados em apresentar as verdades fundamentais da fé cristã; eles deixaram de lado a verdade e se entregaram a fábulas. Em vez de magnificarem a grande vileza do pecado e revelarem as suas eternas conseqüências, tais ministros minimizam o pecado, por declararem que este é apenas uma ignorância ou uma ausência do bem. Em vez de advertirem seus ouvintes a fugirem da “ira vindoura”, tais ministros tornam Deus um mentiroso, por declararem que Ele é muito amável e misericordioso e que, por isso mesmo, não enviará qualquer de suas criaturas para o tormento eterno. Em vez de declararem que, “sem derramamento de sangue, não há remissão”, tais ministros apenas apresentam Cristo como o grande exemplo e exortam seus ouvintes a seguirem os passos dEle." 3                    
O que temos de moral nos pulpitos modernos, são em sua maioria, subproduto do que foi ensinado na teoria e omitido na prática. quando de longe, estudamos o comportamento humano, notamos uma sociedade que está cada vez mais insensivel ao logos. Distantes da única portadora desta palavra, vagam sem direção.  Os que ainda não deram ouvidos ao fraco evangelho que promete não fazem questão de pagar por um Deus engarrafado. Os que já tem o seu exemplar, aguardam seu triste fim: a frustração. O atual sistema, oferece ao indivíduo uma retórica mercadológica, eminentemente antropocêntrica e carregada de subjetividade, como definiu Hegel 4, sofisticadamente rebuscada de uma pretensão de resolver o problema do homem, eliminando a questão de Deus e matando a vontade do homem. Uma pergunta nos cabe agora. Tem a teologia dos pulpitos modernos oferecido os pertences do 'Proprietário', sem apresentá-lo aos que festejam a "fé"?

Fonte:
1 KANT, Immanuel. Lógica. São Paulo: Editora Abril, 1996.
2 MONDIM, Battista. Definição Filosófica da pessoa humana. São Paulo: EDUSC, 2ª Ed., 1998.
3 PINK, Arthur W. La interpretación de las Escrituras. Lion:Editorial Nodo , 1981.
4 HEGEL, Friedrich. Fenomenologia do Espírito. Petropolis: Editora Vozes, 2001.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vontade Humana (parte 1)

Numa questão do compartilhar, vamos pensar em termos de vontade humana acima do si. Lembrando que para Espinosa, a liberdade é a identidade de si consigo. Ele demonstra que o conatus é o único fundamento da virtude, uma vez que esta não é senão a força do corpo e da mente para afirmar-se como causa adequada (ou causa interna total) de suas ações, isto é, para ser plenamente uma potência de agir (potentia agendi) que encontra em si mesma a causa total de suas ações. Daí a sua recusa da tese cartesiana de que além da razão, há um imperium absolutum da vontade sobre as paixões. Espinosa afirma a moderatio como expressão da potência da mente (potentia mentis) ou imperium rationis, capaz de moderar as forças afetivas e regular racionalmente seus próprios conflitos (CHAUI). Certamente, dentre os aspectos mais surpreendentes e perturbadores da ética espinosana estão a afirmação da necessidade livre ou da livre necessidade, a subversão dos conceitos de paixão e ação, na medida que, ao contrário da tradição, deixam de ser termos reversíveis (a paixão como lugar de recepção de uma ação, seu terminus ad quem; a ação como lugar de onde parte uma operação, seu terminus a quo, posições que podem inverter-se, de sorte que uma paixão será ação e uma ação, paixão) para se tornarem intrinsecamente distintas, de tal maneira que a uma mente passiva não corresponde um corpo ativo, nem a um corpo passivo corresponda uma mente ativa, pois corpo e mente são passivos ou ativos juntos e simultaneamente. Essa mudança conceitual é o que permite a Espinosa elaborar uma ciência dos afetos e não uma teoria das paixões. De fato, a reversibilidade dos termos sempre tornou impossível uma demonstração causal perfeita de cada um deles, pois a causa aparecia como algo nômade, migrando do corpo para a alma e desta para aquele1.
Além disso, a identidade entre o necessário e o livre é inseparável dessa subversão conceitual, que permite ao filósofo demonstrar que, sendo a mente idéia do corpo, aquele que tem um corpo apto à pluralidade de afecções simultâneas tem uma mente apta à pluralidade de idéias simultâneas, de maneira que a liberdade humana é potência para o múltiplo simultâneo quando este se explica apenas pelas leis necessárias de nossa natureza, deixando de identificar-se com o exercício do livre arbítrio como escolha voluntária entre possíveis.
A liberdade não se encontra, portanto, na distância entre mim e mim mesma – distância que, usando a razão e a vontade, eu procuraria preencher com algo que não sou eu mesma –, porém, ao contrário, é a proximidade máxima de mim comigo mesma, a identidade do que sou e do que posso. “Toda coisa se esforça, tanto quanto está em si, para perseverar no seu ser” e “O esforço pelo qual toda coisa se esforça para perseverar no seu ser não é senão a essência atual dessa coisa”; – “O esforço com que toda coisa se esforça para perseverar no seu ser não envolve um tempo finito, mas um tempo indefinido” e “A mente, quer enquanto tem idéias claras e distintas, quer enquanto tem idéias confusas, esforça-se para perseverar no seu ser por uma duração indefinida e tem consciência de seu esforço” (Spinoza). Assim, Espinosa oferece a definição do desejo (cupiditas) como essência do homem: “O desejo é a própria essência do homem enquanto esta é concebida como determinada a fazer algo por uma afecção nela encontrada”. Conatus é o esforço que uma coisa singular realiza para permanecer no seu ser (no corpo, são os movimentos ou afecções internos e externos; na mente, o esforço para conhecer; os dois esforços são inseparáveis e constituem a essência atual de um ser humano). Conatus e cupiditas, isto é, esforço de autoperseveração no ser e desejo são o mesmo. é o único fundamento da virtude, uma vez que esta não é senão a força do corpo e da mente para afirmar-se como causa adequa-da (ou causa interna total) de suas ações, isto é, para ser plenamente uma potência de agir que encontra em si mesma a causa total de suas ações. É essa idéia da li-berdade que permite a Espinosa fazer uma demonstração espantosa, a saber, que se nascêssemos livres isso não significaria que estaríamos inteiramente imersos no bem e banhados pelo conhecimento dele, e sim que não teríamos sequer como formar qualquer conceito de bem e mal, isto é, não teríamos nenhuma experiên-cia de uma distância entre nós e nós mesmos. Porque a liberdade é essa proximi-dade plena de si consigo mesmo e poder para o múltiplo simultâneo, dois afetos alegres3 – um deles passivo e o outro, ativo – a exprimem enquanto processo: a hilaritas, como transitio (ou o equilíbrio interno experimentado na passagem de uma realidade, força ou perfeição menor a outra, maior, ou seja, no crescimento da potência de agir), e a aquiescentia in se ipso, como equilíbrio interior permanente. De fato, em ambos, a totalidade complexa e integrada dos constituintes do corpo e da mente é experimentada como equilíbrio interno, como adequação de si a simesmo e, no caso da aquiescentia in se ipso ou do contentamento interior, como permanência ativa na autocontemplação da potência de agir (Spinoza).
Enfim, não menos desconcertante é a demonstração espinosana de que uma idéia é um afeto e de que todo afeto é uma idéia, ou, em outras palavras, que não há diferença nem distância entre afeto e inteligência porque o desejo (cupidi-tas) é a própria essência do homem “enquanto se concebe determinada por qual-quer afecção a fazer algo” e, como explica Espinosa, “por afecção da essência hu-mana entendemos qualquer constituição de sua essência, quer inata , quer se conceba pelo atributo do só pensamento, quer pelo da só extensão, quer se refira a ambos simultaneamente”.O que significa afirmar a identidade do conatus, da cupiditas e da potentia mentis? Ou melhor, o que significa recusar distância e separação entre eles? Para o que nos interessa aqui, significa, evidentemente, recusar que entre o desejo e a inteligência se interponha a vontade, que esta seja responsável pela ação e que essa ação voluntária seja governar os afetos. Eis por que o enunciado da proposição, que encerra a Ética (e que pusemos como epígrafe de nosso texto), altera o sentido estóico do adágio “a felicidade não é o prêmio da virtude, mas a própria virtude”, ao acrescentar que não fruímos dela porque refreamos as paixões, coerção que o estóico atribuía à vontade, e sim que porque a fruímos, refreamos as paixões, uma vez que a virtude não é senão a potência da mente para conhecer.Assim, um dos aspectos mais inovadores e perturbadores da ética espino-sana está na demonstração de que a vontade não tem absolutum imperium sobre os afetos e que nossa força ou virtude está na força de nossa mente para moderá-los. Essa demonstração, que assume tons e sentidos múltiplos no decorrer da Ethica (dependendo do lugar em que apareça e dos destinatários a que se dirija), possui dois pressupostos básicos. Um deles, examinado sobretudo na Parte IV, é a finitude da força humana, que transparece seja na incomensurabilidade entre ela e a infinidade de forças externas que a rodeiam e atuam sobre ela tanto na ordem comum quanto na ordem necessária da Natureza (de tal maneira que há duas paixões irredutíveis à ação: o medo e a esperança, expressões dos riscos que espreitam a duração do conatus, a qual é, de direito, indefinida, pois ele é um positivo intrinsecamente indestrutível), seja no papel conferido às noções comuns da razão, que asseguram que a virtude é inseparável da concórdia e da compreensão e que, portanto, somente na paixão os homens são contrários uns aos outros porque a paixão envolve negação e contrariedade. O outro pressuposto é a articulação entre absolutum imperium e vontade livre ou livre arbítrio, de um lado, e entre moderatio e inteligência ou razão/reflexão, de outro.

Fonte:
CHAUI, Marilena. Imperium ou Moderatio? Publicação do Depto. de Filosofia, FFLCH-USP.
ESPINOSA, B. de. Spinoza Opera. Ed. de C. Gebhardt. Heidelberg: C. Winter, 2ª ed. 1972, 4 tomos.
CHAUI, M. Ser parte e ter parte: servidão e liberdade na Ética. Discurso, no 22, 1993, p. 63-122 (publ. do Depto. de Filosofia, FFLCH-USP).