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Aprendiz de Teologia e Filosofia

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A luta entre o bem e o mau... (e não é um erro de português)

Por Braulia Ribeiro
A língua forma a cultura. A língua decide como vamos pensar à respeito de um conceito, como vamos internalizar um valor. Cada língua do mundo, ou grupo de línguas, “explica”  a realidade à sua maneira.  A língua forma a cosmovisão do povo. Esta cosmovisão portanto se circunscreve dentro dos limites concetuais impostos pela língua.  Até os cientistas da física moderna preceberam que chegaram a um limite em relação ao que conseguiam explicar e perceber dentro de sua cosmovisão. Fritjof Capra[1] recorreu à religião taoísta chinesa para tentar explicar o que a ciência constatava. Isto pode parecer absurdo para alguns mas para os etno-lingüístas familiarizados com a diversidade de pensamentos e diversidade de conceituação multi-lingüística, é apenas o passo natural que temos que dar na busca do conhecimento.
Até a ética da sociedade atual é afetada pelas mudanças lingüísticas, algumas “encomendadas” para refletir uma ambigüidade que não existe. Por exemplo bebês no útero começaram a ser chamados de fetos, e agora apenas de tecidos, em inglês – “tissue”. Isto diminui o impacto de matá-los através do aborto, mesmo no final da gravidez, ou de usar “live-tissues” nos avanços da medicina, chegando ao cúmulo de  considerar legal que o assassinato com uma tesoura na nuca do bebê que já tem o corpo fora do útero, mas a cabeça dentro. Legalmente ele ainda é um tecido.
A língua também afeta nossa teologia. Recentemente pensei numa mudança lingüística que pode nos revelar uma verdade  que se oculta da maioria por causa da língua. Elimanaremos do dicionário o “mal” com “l”. Na nossa cosmovisão indo-européia (no tempo que todas as línguas ocidentais modernas eram uma só) o bem e o mal se opunham em igualdade de forças. Esta era a visão pagã de nossos antepassados e que os filósofos chamam de maniqueísmo. O grande Bem e o grande Mal lutando como Tyson X Holyfield num ringue de box.[2] Deus e o Diabo em pé de igualdade lutando pelo poder sobre o mundo criado.
O Bem e o Mal na visão de mundo Indo-européia
BEM                                                                                        MAL
                 Lugares celestiais                                                                               Lugares terrestres
                 Deuses Benignos                <–Batalha central do poder–>                  Deuses Malignos
                  Consequências
                  Pessoas Boas                       <–Batalhas de poder–>                         Pessoas más
O Cristianismo é freqüentemente caracterizado como uma religião maniqueísta, e muitas vezes na nossa vida, nos ensinos, até na oração refletimos este pensamento. Combatemos um mal onipresente,  obcecados com o embate metafísico, às vezes perdemos, às vezes ganhamos. Combatemos pessoas, coisas, a cultura como se elas fossem  o mal materializado.
Existe a batalha na Bíblia, mas é muito diferente. O bem e o mal não são forças paralelas e não são iguais de maneira alguma. Aliás o mal com “l” nem existe. Não existe um mal conceitual, abstrato, transcendente. O único “mal” presente na terra dos homens é o mau qualificação da ação, não o mal substantivo. A oposição existe entre Deus, a pessoa de amor tudo o que diz respeito à ele, e a rebeldia.  O pecado, exercido, praticado, pelos homens ou pelo diabo, é o que se opõe à Deus.  Se existe um ringue de box no universo quem está lutando nele somos nós e o diabo, rebelde contumaz que faz de sua guerra contra nós, seu libelo contra Deus.
O mal existe na medida em que nós o criamos. Ele nos cerca porque nós o produzimos. As trevas, se caminhamos nelas, são auto-produzidas, o diabo nos tenta, nos perturba e oprime, mas só tem espaço quando nós em nossa rebeldia contra Deus o convidamos. Podemos nos tornar maus, por praticarmos habitualmente o mau,  até que estas fibras de rebeldia sejam tecidas na nossa personalidade. Mas enquanto vivermos será o mau, nunca o “mal” absoluto, contra o qual lutaremos porque ainda seremos passíveis de redenção. O mal não é independente do bem – mal é a negação do bem. O “mal” é a ausência de Deus. A desobediência é o pecado principal dos seres criados. A explicação da cruz, não é o bem vencendo o “mal”, mas é o amor de Deus, pagando o preço pelo mau – nossas más escolhas.
Deus Criador , Onipotentente
                                                                      Amor perfeito
                                                             Criação com livre arbítrio
                      Leal                                                                                                     Rebelde
                Bons anjos                                                                                       Satanás    e Demônios
         Ajudam, intercedem,                                                                               Enganam e tentam
           Iluminam revigora
           Lugar de Batalha
As  estruturas e os sistemas humanos
                                                                  Indivíduos humanos
                                                    Espírito humano- nova e velha natureza
Não posso deixar de pensar que se vivêssemos o cristianismo do bem e do mau, seríamos mais responsáveis, amaríamos, mais, obedeceríamos mais, nos esforçaríamos mais por retribuir com bem aquele que nos amou mesmo sendo maus.
Não posso deixar de olhar para o Brasil de hoje, da canalhice institucionalizada, da amoralidade sem compromisso social, do malazartismo absoluto e pensar que por mais que eu não queira admitir, a culpa disto tudo não deixa de ser minha também.

[1] Fritjof Capra “ O Tao da Física” [2] Referências à cosmologia indo-européia em Paul Hiebert, Understanding Folk Religion.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Discipulado, uma opção pela graça II

Pão ou circo? Como somar o social com o espiritual? E depois, como ver de fato se há discipulo do pão ou discipulo do pão? Por um desabafo sobre a maneira de vivenciar a missão integral, escrevo não para dizer que sou a favor da miséria, mas para desabafar minha insatisfação com um tipo de missão que olha para a barriga e esquece a alma. O homem, como já foi visto anteriormente, não necessita de um embrião motivacional para o seguir. Basta ser o homem/mulher devido sua gênese quase divina e correlata ao divino. Ser humano no sentido estreito da palavra sugere resposabiliadade de não-ser irracional. Logo, concordo com Sartre, o homem não pode ser parte de uma missão, seja ela qual for, se não engajar esforços próprios. Esse esforço é dele mesmo. É sua existência. Na medida que enfeitamos o evangelho para ser apresentado é como se o mesmo não fosse tão poderoso e tão impactante. Erramos em querer fazer um discipulo de quem não o quer. O discipulado exige ser-o-outro-ele-mesmo, assim quando Jesus chama ao discipulado, chama para sair. Em Lausanne, Suiça, cerca de 3.500 líderes de várias denominações de diversos países debaixo do lena "que o mundo ouça a voz de Deus" reuniram-se para discutir e planejar a cerca da evangelização mundial. Depois de muita interação e diálogo entre vários tipos e vertentes do pensamento teológico mundial, nascia em 1974 o que passou a ser conhecida por teologia da missão integral. É a proposta de um evangelho para o homem todo. Naquela reunião falou muito alto a participação de alguns nomes da teologia latino-americana. No congresso de Lausanne, apenas duas coisas não faz coro com o discispulado de Jesus:

1) A reflexão puramente social: Anunciar a palavra de Deus num ambiente espúrio, onde os pobres são oprimidos, onde prevale. O adorar a Deus virou vale alimentação e kit social. Numa ocasião recebemos alguns irmãos americanos que piamente, sairam em suas férias rumo ao Brasil, ajudar os pobres para pregar o evangelho da salvação. Atendimento médico, odontológico, doação de roupas importadas, exames de vista e óculos grátis, lanche, brinquedos para as crianças. No final de tudo 2000 familias foram cadastradas. então saímos para conversar com essas fámílias. Não fomos bem recebidos. Uma senhora de 63 anos que havia marcado em sua ficha de cadastro que, gostaria de ter uma visita de oração e estudo bíblico, disse, que foi apenas para conseguir os óculos que não conseguiu comprar com sua aposentadoria. Assim foi com 90% dos visitados. E o que isso tem a ver com Lausanne? Muita coisa. Neste empreendimento tivemos exelente resultado social e quase nada de discipulado. Algumas comunidades parecem pregar um evangelho das obras meritórias. Dificilmente levam a verdade, mas se ostentam em distribuir cestas básicas.


2) Pouco esforço evangelístico: Por ter uma tendência por um pouco liberal o congresso enfatizou o homem na sociedade. Basta ouvir um adpto do pacto para perceber que não há fervor evangelístico. Falta disposição para testemunhar na virtude do Espírito Santo. Porque? (leia Atos 1:8) Crer em milagres (seria muito cruel exigir isto). Logo lembrei-me de outro dia quando algumas pessoas apresentaram o evangelho puro à uma família. Não eram teólogos e nem pastores evangelizando. Apenas apresentaram a salvação de forma simples. Sem kit social, sem atendimento médico, sem sopão. Motivados apenas pelo poder de Deus. Pelo dom do Espírito Santo, e aquelas pessoas já deram um passo inicial na caminhada com Cristo. Eram apenas o homem existindo em sua genese. Quando perguntei a um pastor se poderiamos realizar um plano de evangelização nos lares. Ele me disse que sua igreja não tinha orçamento para o trabalho e que "hoje as pessoas não querem ouvir apenas histórias da bíblia..." Quando lemos no livro de gênesis "...imagem e semelhança..." podemos enteder essa gênsese.O envagelho é uma opção pela graça, não uma opção secundária. Não algo que por ser ganho como amostra grátis. Uma amostra grátis é somente adquirida porque vem acompanhado daquilo que realmente interessa. Por ser imagem refletimos a mesma caricatura. Deus ama as pessoas, então passamos a amar também, sem ouro, sem prata, sem marmitex. Apenas o evangelho.  Puro e simples. As igrejas do evangelho social estão na vitrine. Lógico, é papel da igreja ajudar o pobre e o necessitado, mas não é essa a sua bandeira. Sua bandeira é Cristo e este ressucitado.