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Aprendiz de Teologia e Filosofia

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A VOZ MÉDIA NA LINGUA GREGA


Desde o tempo de seminário que gosto mais de Hebraico que de Grego, embora este seja mais fácil. Mas ultimamente dediquei-me um pouco mais ao Grego, para fazer algumas leituras.
Por isso, prestei atenção num trecho do livro O pastor contemplativo, de Eugene Petersen. Ele me é uma espécie de guru. Respeito-o muito e sempre aprendo dele. Neste livro, ele tem um capítulo sobre a voz média, no Grego. Não se preocupe! Não serei mais confuso que o habitual.
Em Português não há o correspondente à voz média. Há a voz ativa (cometo a ação) e a passiva (sofro a ação). Na voz média, “participo ativamente de uma ação  que outra pessoa inicia”.
Ele compara a vida cristã com a voz média grega. Diz ele: “Não manipulamos a Deus (voz ativa) nem somos manipulados por Deus (voz passiva). Somos envolvidos na ação e participamos de seus resultados, mas não a controlamos nem a definimos (voz média)”.
Deus não impõe a vida cristã sobre nós. Ele não nos empurra um pacote pela goela. Diz 1Timóteo 2.4: “Ele quer que todos sejam salvos e venham a conhecer a verdade”. Nem todos se salvam nem conhecem a verdade. Muitos se perdem: “A porta estreita e o caminho difícil levam para a vida, e poucos encontram esse caminho” (Mt 7.14). Ele não salva ninguém contra sua vontade. Ele não nos impõe sua vontade. Não somos fantoches com ações sem valor moral.
Nós não impomos lhe nossa vontade. Isso de ordenar, declarar e reivindicar não soa sadio. Jesus ensinou a pedirmos a vontade de Deus: “Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu!” (Mt 6.10).  Declarar e ordenar são arroubo infantil de quem desconsidera a Bíblia. É um baixo conceito de Deus. Jesus se submeteu à vontade do Pai: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice de sofrimento! Porém que não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres” (Mt 26.39).
Vida cristã é vida partilhada com Deus. Ele não nos obriga e não o forçamos. Na vivência diária  amadurecemos espiritualmente. Conhecemo-lo mais, buscamos agradá-lo, ele nos esclarece e mostra que muitos de nossos “desejos espirituais” são, na realidade, mundanos, e submetemos à sua vontade. É o que diz Romanos 12.2: “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele”.
Belo exemplo da voz média. Não somos agentes do processo. Nem sofremos abuso espiritual. Vivemos com ele, somos transformados por sua Palavra, e nos ajustamos espiritualmente.
Há gente na voz ativa: quer mandar em Deus. Confunde-o com energia cósmica. Há gente passiva. Espera que Deus faça tudo. Voz média é isto: nós e Deus  andamos juntos, e o que ele começa em nossa vida recebe nossa participação.

ISALTINO GOMES COELHO FILHO

Um comentário:

  1. Quando li este texto achei que era mais um desabafo armininiano (se bem que tal teologia é utopica), li pela segunda vez e achei que era um verdadeiro texto calvinista (apesar desta estar ultrapassada), mas em ultima análise, considerei-o um texto teológico-existencialista, quer dizer: a junção das duas anteriores.

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